O Epitáfio de Johnny Cash (Hurt)

Ontem eu estava com a TV ligada e vi a propaganda de um filme que me pareceu muito ruim¹, mas o pedacinho da canção que o embalava era muito boa. Me lembrei do timbre de Johnny Cash, a única voz que eu respeito o bastante para jamais tentar acompanhar, quando ouço música no carro. Fui confirmar de quem era, e descobri se tratar de sua última gravação importante, “Hurt”, de 2002. De Johnny Cash geralmente ouvimos os countries mais famosos, “I Walk the Line”, “Cry Cry Cry”, “Man in Black”, essas que o Matanza regrava às vezes. “Hurt”, na verdade, é um cover de Nine Inch Nails; um cover que supera o original. Depois desta gravação, o próprio compositor (Trent Reznor, o cara que fez as últimas trilhas de David Fincher) afirmou que a canção agora pertencia ao Homem de Preto. No clipe, a canção é tocada por um Cash velho e melancólico, intercalada com imagens de momentos mais gloriosos – Cash em sua juventude, topetudo, sorridente, confiante. Cash (o velho) usa roupas finas e está rodeado de troféus e objetos luxuosos, miniaturas em bronze, naturezas-mortas, bustos, vasos de porcelana, vinhos e taças de cristal, além de fazer um banquete com lagosta, champanhe e caviar. Mas ele não está mais feliz como era em sua juventude; seus olhos parecem nos lembrar: “acontecerá comigo também. O dinheiro e a glória não me compraram a eternidade” (“everyone I know goes away in the end”). É uma canção muito triste e bela. Um ano depois ele morreria, e esse clipe ficaria conhecido como O Epitáfio de Johnny Cash.

¹Lição: não desprezar completamente os filmes que parecem ruins, pois nunca se sabe o que vem na trilha sonora.