Dia desses vi o trailer de Meu Nome É Gal, e me lembrei de uma anedota dos tempos dessa filmagem. Aconteceu no Cine Glauber, em Salvador, em janeiro de 2019. Eu tinha acabado de ver Shoplifters com meu compadre Igor, quando nos encontramos com Cláudio Leal (que, acabo de saber, faz o papel de Torquato Neto no filme). Tomamos uma cerveja, enquanto Claudio esperava sua “musa”, que o acompanharia a uma peça no mesmo espaço. Ela chegou, se apresentou como Sophie, pediu um salgado, contou que era atriz, e conversa vai, conversa vem, começamos a falar sobre a estrutura narrativa de Dunkirk, que ela não tinha visto. Achei curioso que Igor, um dos maiores puxadores de papo dessa terra de puxadores de papo que é a Bahia, além de grande entusiasta de estruturas narrativas experimentais, estava misteriosamente calado. Não que não dissesse nada, mas seu fluxo de palavras gotejante me pareceu deveras incomum. Talvez estivesse aturdido com a beleza da Musa, pensei; mas isso tampouco era comum, pois meu compadre, então descomprometido, tornava-se um puxador de papo ainda mais ligeiro e altissonante diante de musas. Chegou a hora da peça, nos despedimos, e Igor permanecia com o olhar sorumbático:
“Cumpade véi, tá ligado que ali é Sophie Charlotte, né?”, disse-me ele, algo melancólico.
“Nossa, como você sabe o sobrenome dela?”
“Porra, man, essa é uma das negas mais famosas do Brasil!”
Fomos pro Cravinho, e numa breve pesquisa descobri que ela tinha milhões de seguidores, que era protagonista da novela das 8, e que estava na cidade para atuar numa cinebiografia de Gal. Sophie Charlotte é a pessoa mais famosa que eu conheci na vida, ao menos assim, de trocar uma ideia de perto. Se, por um lado, lamento por não saber quem era ao conhecê-la, por outro receio que, se soubesse, teria travado igual ao meu compadre. De um jeito ou de outro, tive meu momento de glória quando, uma semana depois, contei essa história em Irecê.
“Mas puta que pariu, Paulinho”, exclamou a minha amiga Juliana Galegona. “Só você mesmo pra não conhecer Sophie Charlotte!”
“Eu conheço Sophie Charlotte”, retruquei, triunfante. “Quem não conhece é você!”