Tenho uma memória boa e sou obcecado por listas. Volta e meia escrevo pra mim mesmo essas listas profundamente pessoais, randômicas e ostensivas. A única que joguei aqui é o post que a galera mais curte neste blog. Vai mais uma, sobre o que fiz entre 15 de março de 2020 e hoje.
Aluguei um carro 1.0 e vim com meu primo de São Paulo a Irecê cortando pelas estradas de terra pois o povo no começo sentia medo da doença e não deixava a gente entrar nas cidades, então estive em São Paulo Corinto Caetité Irecê (e região) Lençois Costa do Sauípe Jacobina e Salvador, fiquei 67 dias ininterruptos sem cruzar do portão de casa, e desde 2005-7 eu não ficava tanto tempo sem sair da BA (and still counting), voltei a morar com AJ e depois também com MF e um pug descarado, bebi uma dúzia e meia de garrafas de conhaque duas de royal salute e centenas de garrafas de bebidas várias, mas gastei menos dinheiro com bebida do que o habitual, preparei lasanha galinha com batatas yakisoba carne com cerveja preta churrasco tacos almôndegas buta no kakuni paella mexilhões ragu bobó escondidinho cebola recheada porco assado negronis mojitos roscas tônicas margaritas aperois, engordei sete quilos e perdi três e meio sem fazer dieta, estourei as costas para ver pinturas rupestres numa montanha, fiz fisioterapia alongamento academia, organizei meu sono, organizei num lugar só as coisas que tenho online, organizei todas as minhas pastas e arquivos do PC e criei mais um monte pra bagunçar tudo de novo, fiz apresentações em seis eventos literários e acadêmicos, assisti a outras dezenas de eventos, participei de inúmeras lives etílicas, ministrei dois cursos de escrita, fui aluno em uma matéria da USP e num curso de narrativa de HQ, dei três entrevistas, entrevistei duas pessoas, perdi e depois passei na qualificação do doutorado, joguei dominó xadrez futebol dixit e videogame, aprendi “Killing in the name” “God’s gonna put you down” “Aerials” “O milionário” e “It ain’t me babe” mas já esqueci quase tudo delas, perdi em oito editais mas trabalhei em três projetos contemplados, assinei a carteira e deixei de receber bolsa, recusei trampos massas reggaes massas viagens massas e textos mais ou menos, traduzi onze livros, escrevi um roteiro um conto nove poemas cinco ensaios talvez 2/5 de um romance três letras de canções cinco crônicas um artigo acadêmico doze releases uma orelha e um prefácio para amigos, amigos e camaradas lançaram 21 livros até onde contei, trabalhei na edição de 32 livros e 16 textos de revista, recebi em mãos oito traduções impressas que fiz, anunciei que vou publicar meu livro, comprei duas estantes, um kindle, adquiri mais de cem livros e HQs somando presentes compras e os que recebo da editora, comprei uma edição do século XIX, perdi dois livros por causa de um pug descarado, aprendi a ler caminhando, li 79 livros, 109 HQs, vi ao menos uma centena de filmes, 32 temporadas de seriados, fiz dois aniversários, 57 postagens no instagram, 16 no meu blog (com esta), aderi ao twitter e aos podcasts, perdi a conta de quantas vezes xinguei o presidente (and still not counting), tive algo estranho e indefinido com uma moça que eu não sabia que era casada, tomei uma bota repentina mas nada estranha e indefinida, fui em duas cachoeiras, peguei dengue, depois tive uma coceira terrível nas mãos e usei luvas por dois meses e todo mundo achava que era por precaução excessiva com a pandemia, não peguei covid, não peguei gripe, não quebrei nada, não passei sufoco, não surtei, não tive burnout, não tive insônia, não tive pesadelos, não senti medo, não perdi ninguém, não cheguei nem perto disso, tomei duas doses da vacina, e, balizando os pontos positivos e os negativos, o saldo são as estatísticas de um privilegiado.