O cego do acordeão + tradução na Serrote 27

Publiquei o conto “O cego do acordeão” no belo zine Despacho, dos guerreiros da editora @satacorsario. Pode ser lido neste link.


Também saiu por agora minha tradução do ensaio “Sobre os Preconceitos de Nacionalidade”, de Oliver  Goldsmith, na Serrote 37. A Serrote é minha revista favorita, e ano passado publiquei a tradução do ensaio “Uma apologia dos ociosos”, de Robert Louis Stevenson, na Serrote 34.



Mostrar e contar: a arte da não ficção

Visualização da imagem

Ano passado ministrei esse curso de não ficção num dos lugares mais legais de São Paulo, a @taperatapera, e foi uma experiência sensacional. Muita gente me pediu que eu ministrasse o curso em outros locais, e aqui está. Será na Tapera, mas também em Irecê, e espero que em muitos outros lugares.

“Mostrar e contar é o título de um livro sobre a escrita criativa de não ficção do ensaísta e antologista Phillip Lopate. Este e outros livros sobre escrita e não ficção, em conjunção com atividades práticas, serão o norte desse curso. Cada aula será dividida em dois momentos no primeiro (mostrar), uma explanação sobre alguns gêneros e formas de não ficção; no segundo (contar), conversas sobre sua prática, com ênfase em publicações do ministrante e na produção dos inscritos.”

Peço que divulguem a quem possa se interessar.

Mais detalhes e inscrições por este link.

Psicopata americano + O mal nosso de cada dia

Estão em pré-venda mais dois livros que traduzi para a DarkSide Books, Psicopata Americano, de Bret Easton Ellis, e O Mal Nosso de Cada Dia, de Donald Ray Pollock.

Quando comecei a traduzir Psicopata Americano, tinha apenas uma noção da história, pois nem tinha visto o filme ainda, e não sabia que era um romance experimental, repleto de jogos de linguagem e invenções narrativas. Além disso, é o livro mais violento que já li, com doses fartas de um humor pesado e incômodo. Causou polêmica por tentarem censurá-lo no começo da década de 90, quando ninguém sonhava que o herói do protagonista se tornaria presidente dos Estados Unidos.

 

Fico feliz demais por finalmente ver O Mal Nosso de Cada Dia pronto (tenho até um caso curioso do processo tradutório pra contar depois). Nesse romance, acompanhamos um ex-combatente de guerra que faz sacrifícios por sua esposa com câncer, um casal de serial killers, um policial corrupto, e uma inesquecível dupla de pastores. O livro já foi classificado como thriller, “Ohio” Gothic, grit lit, várias coisas, mas basta saber que é um romance pesado, violento e melancólico, de prosa exuberante, na pegada de Flannery O’Connor e Cormac McCarthy. Assim como Psicopata Americano, tem muito a dizer sobre as pessoas que votaram em Trump, mas agora na posição oposta da pirâmide social. Em setembro sai uma adaptação cinematográfica pela Netflix.

Sobre outras traduções:
Antologia Macabra – Hans-Ake Lilja
O Médico e o Monstro e Outros Experimentos – Robert Louis Stevenson Apologia dos Ociosos – Robert Louis Stevenson
Dois ensaios – Karel Capek

Revistas: Serrote 34 + Barril 21

Semana passada saiu uma tradução minha do divertidíssimo ensaio “Uma apologia dos ociosos”, de Robert Louis Stevenson, na edição 34 da revista Serrote, minha publicação favorita. Vale a pena.

Após uma pausa de dois anos, saiu também a edição 21 da revista Barril, na qual sou editor de literatura, e onde já publiquei alguns ensaios e traduções. Tudo vale a pena.

Lista de ensaios online – Mostrar e contar

Acabo de ministrar um curso de não ficção chamado Mostrar e contar. Abaixo uma lista de ensaios que montei para os alunos, acompanhada de um breve comentário. Outras listas minhas, aqui

Olá. Segue uma lista de ensaios disponíveis online, uma lista de certa forma aleatória, pois meu único critério é que me tenham sido marcantes de alguma maneira. A ideia é que, partindo destes, vocês também busquem outros, que montem suas próprias listas – claro que há vários outros disponíveis no site da Serrote, na Piauí, em sites que nem conheço, nesta há apenas uma amostra. Dei preferência a ensaios em português, mas também incluí alguns links em inglês. Não li todos da Zazie ou da Quotidiana, mas por questões de praticidade mandei logo as páginas inteiras. Incluí também alguns ensaios que escrevi, editei ou traduzi. A lista é longa, mas a ideia é que não seja vertiginosa – em vez de “ensaios obrigatórios que vocês devem ler antes de morrer”, encarem como um cardápio com opções variadas: se guiem pela própria curiosidade e se deixem fisgar (ou não) por eles. Espero que gostem. P.

SOBRE ENSAIOS
A pequena arte do grande ensaio – Daniel Piza
Sobre os ensaístas de periódico – William Hazlitt
O ensaio e sua prosa – Max Bense
O ensaio como forma – Theodor Adorno
A ensaificação de tudo – Christy Wampole
Portrait of the essay as a warm body – Cynthia Ozick – (Original de “Retrato do ensaio como corpo de mulher”)
The ill-defined plot – John Jeremiah Sullivan (Original de “Essai, essay, ensaio”)

CLÁSSICOS
Dos canibais – Michel de Montaigne
Modesta proposta – Jonathan Swift
Matar um elefante – George Orwell
Quotidiana

SERROTE
A sociedade como campo de batalha – Guilherme Freitas
A ideia de um mundo sem fronteiras – Achille Mbembe
Trangressão à direita – Daniel Salgado
Um álibi para o autoritarismo – Moira Weigel
Esse cabelo – Djaimilia Pereira de Almeida
A voz de Lula – Tales Ab-Saber
Serrotinhas (todas as edições marcadas com “½” estão disponíveis na íntegra)

PIAUÍ
Duas meninas – Lorenzo Mammì
Pense na lagosta – David Foster Wallace
Let it go – Leandro Sarmatz
A mãe de todas as perguntas – Rebecca Solnit
A coceira – Atul Gawande
O que é fascismo – George Orwell

BARRIL
Elogio ao hobby – Igor de Albuquerque
A águia raspando o bico – Charlles Campos
O coveiro de tudo – Juliano Dourado
A crítica da razão pura de bar – Daniel Guerra

SEPE
Estamos perdendo o viço da maldade – Gustavo Melo Czekster

CHÃO DA FEIRA
Caderno de Leituras

ZAZIE EDIÇÕES
Pequena biblioteca de ensaio

DICTA & CONTRADICTA
Sobre o vício e a virtude – Plutarco
O primeiro discurso – Samuel Johnson
Da fama de Horácio entre os antigos – Giacomo Leopardi

BLOG DO IMS
O meme, o soneto e o escorbuto – Victor Heringer
Nós, pessoas em silêncio – Carla Rodrigues
A arte de falar mal – Paulo Roberto Pires

MEUS
Blog do IMS
Barril
A declarar nada
Lista de livros de ensaios (I)
Lista de livros de ensaios (II)
Tradução de A morte da mariposa – Virginia Woolf
Tradução de Sobre correr atrás de chapéus – G. K. Chesterton
Tradução de Dois Ensaios – Karel Čapek

O vazio, o Satanás, o esprit d’escalier

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Publiquei umas coisas nas últimas semanas, mas andei ocupado demais pra divulgar por aqui. A revista Barril, de Salvador, republicou o texto mais legal que já escrevi neste blog, o ensaio A declarar nada, sobre a linguagem empolada, os textos vazios, o que caracteriza os discursos que, por excesso, acabam por não dizerem muita coisa. Antes, já saiu lá O direito de interpretar Hamlet, em que contraponho Aziz Ansari e Javier Marías para discutir as ansiedades da representação cênica diante das indagações relacionadas à apropriação cultural, e ano passado saiu A visão personalíssima do clássico, sobre encenações pós-modernas de peças clássicas. Nem preciso sugerir que confiram a revista toda; sempre tem muita coisa foda lá.

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Pouco depois, o brasiliense Danilão, o cara mais legal do Facebook, me convidou para escrever na lindíssima Revista Seca. Mandei uma série de notas estranhas com as quais estava trabalhando na época, para um curso de escrita com Paloma Vidal. Em Plurais, mudanças, objetos essenciais, falo sobre a primeira pessoal do plural num ensaio de Virginia Woolf, apresento minha versão do Satanás e discorro sobre minhas mudanças e os objetos realmente essenciais.

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Por fim, semana passada saiu um ensaio que fiz para o Blog do IMS, Declínio e queda do esprit d’escalier, o texto que me deu mais trabalho pra escrever este ano, e também meu favorito. Entre um monte de coisas, cito um ex-presidente, parodio uma hashtag famosa e evoco Laranja Mecânica ao discorrer sobre línguas ferinas, enfants terribles, ideologias perigosas, escritores arrependidos, redes sociais, assassinato. Quem quiser, pode também conferir o primeiro texto que publiquei lá, há alguns meses, Atravessar a rua com o sinal fechado, sobre a “calistenia anarquista”, desobedicência civil, e o jeitinho brasileiro.

O direito de interpretar Hamlet

Na última edição da revista Barril saiu um ensaio meu em que contraponho Aziz Ansari e Javier Marías para discutir as ansiedades da representação cênica diante das indagações relacionadas à apropriação cultural. Confira também este ensaio que publiquei lá ano passado, A visão personalíssima do clássico, sobre encenações pós-modernas de peças clássicas, e esta crítica algo ensaística de uma peça que vi este ano. Nem preciso sugerir que confiram a revista toda; tem muita coisa massa lá.

Sobre guardar segredos – William Cowper

Nos meses anteriores publiquei aqui a tradução de três ensaios clássicos ingleses. Pra não falhar este mês, mando mais uma tradução. Desta vez peguei uma que faz parte de minha dissertação, o divertido ensaio de William Cowper sobre como os confidentes inevitavelmente deixam escapar os segredos que lhes são confiados. Espero que gostem. (Clique na Imagem).

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Vinte Livros de Ensaios Imperdíveis (11-20)

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11 – Como Cozinhar um Lobo (Companhia das Letras) – M. F. K. Fisher

Publicado originalmente durante a Segunda Guerra Mundial, Como Cozinhar um Lobo é sobre a comida – ovos, sopas, bolos, peixes – nos tempos de escassez. Antes que me perguntem novamente, o “lobo” do título é a fome, aquela que sempre bate à nossa porta. Esses ensaios são preparados com grandes doses de informações, nacos de histórias e pitadas de receitas. Anos mais tarde, a autora ainda temperou o texto original com comentários sagazes.

12 – O Mundo Assombrado pelos Demônios (Companhia das Letras) – Carl Sagan

Muitos dos chamados divulgadores de ciência – Russel, Sacks, Jay Gould, Mlodinow, Dyson – são grandes ensaístas. Mas foi o astrônomo Carl Sagan quem mais se aproximou do cidadão comum. Além da série televisiva Cosmos, seus livros divertidos e instigantes sempre fizeram grande sucesso. Em O Mundo Assombrado pelos Demônios, seu objetivo é enterrar o analfabetismo científico e a crença cega em superstições. Ele aborda temas como bruxaria, satanismo, paranormais, OVNIs, ETs, com o olhar criterioso de uma investigação.

13 – O Livro dos Insultos (Companhia das Letras) – H. L. Mencken

Ferino e explosivo, o jornalista Henry Louis Mencken tinha aquilo que os ingleses chamam witty. Seus ensaios são de uma sagacidade embaraçosa – Mencken ataca tudo o que discorda ou lhe desagrada. No Livro dos Insultos, com ensaios, esquetes e aforismos selecionados por Ruy Castro, não importa o perfil do leitor: ele haverá de se sentir insultado de alguma maneira. Insultado, porém com inteligência; um insulto tão bem feito, que poderia ser tomado por elogio.

14 – Como Morrem os Pobres (Companhia das Letras) – George Orwell

George Orwell marcou a história da literatura com 1984 e A Revolução dos Bichos, mas também legou uma abrangente obra de não-ficção, apesar de não tão conhecida. Como Morrem os Pobres faz par com o livro Dentro da Baleia, e neles podemos descobrir a versatilidade do anglo-indiano, que fala de chá a assassinatos, de política à culinária, de jornais a lareiras, numa linguagem viciante. É impossível largar no meio um ensaio de Orwell.

15 – Contemporâneo de Mim – Daniel Piza

Piza foi um onígrafo, que é como designo quem escreve sobre tudo. Ele era imprevisível: discorre com estudo e propriedade sobre literatura, cidades, tecnologia, cinema, medicina, música, sociedade, história, política, pintura, etc., sempre com estilo, em sua linguagem aconchegante. Ele também amava futebol. No Questão de gosto está o melhor parágrafo que já li sobre Pelé. Em suas percepções, Piza encarna a elegância; em sua alegria por compartilhá-los, transverbera civilização.

16 – A Pessoa em Questão (Companhia das Letras) – Vladimir Nabokov

Sim, os quinze capítulos que compõem a famosa autobiografia de Nabokov são na verdade ensaios, originalmente publicados em revistas, numa ordem diferente. Reorganizados cronologicamente, esses proustianos mosaicos – textos vibrantes, coloridos, palpáveis – englobam seus primeiros quarenta anos de vida. Seus grandes interesses estão misturados: borboletas, trens, duelos, xadrez, idiomas, coleções, a família, poesia. Sua memória coordena a busca pelas “evidências conclusivas” de que ele existiu.

17 – Engolido pelas Labaredas (Companhia das Letras) – David Sedaris

O primeiro ensaio, sobre a histeria com higiene, induz as pessoas a sujarem a roupa com comida mastigada; outro, sobre uma visita a um necrotério, faz caírem da cama. Aquele sobre uma vizinha rabugenta causará gargalhadas que incomodarão a todos no ponto de ônibus, e não haverá nada mais embaraçoso. Por aí vai. Todos os livros de Sedaris são perigosamente engraçados; Engolido pelas Labaredas tem uma vantagem descarada sobre os outros: é o maior disponível.

18 – O Casaco de Marx (Autêntica) – Peter Stallybrass

Confesso que nutro preconceito contra o nome de Marx na capa. Nada contra a pessoa, mas contra os teóricos pedantes, os entusiastas que não o leram, e as edições chatas, abarrotadas de notas de rodapé. Mudei de opinião sobre esse livro ao começar o tocante ensaio sobre uma jaqueta de beisebol que Stallybrass herdou de um amigo. E no final das contas, “O Casaco de Marx” é um texto magnífico sobre um homem, seu casaco e suas circunstâncias. A edição da Autêntica, única no mundo, ainda contém um ensaio sobre o ato de caminhar.

19 – Ficando meio Longe do Fato de Estar meio que Longe de Tudo (Companhia das Letras) – David Foster Wallace

Reportagens sobre uma feira rural, um cruzeiro e um festival de lagostas; Roger Federer; o riso; um discurso. Apesar do tema nem sempre atrativo, estes seis textos são muito interessantes. DFW é o pintor da vida pós-moderna; todos esses ensaios estão repletos de breves observações, pequenos insights, aparentemente despretensiosos, que, quando finalmente abstraídos, te derrubam da cadeira do ônibus. Como se sempre conhecêssemos esses pensamentos, sem saber formulá-los em palavras. Ovos de Colombo. Obviedades ululantes.

20 – Pulphead (Companhia das Letras) – John Jeremiah Sullivan

Sullivan sempre entra nos lugares de acesso restrito: o palco do Guns n’ Roses, uma caverna indígena, a produção de One Tree Hill, – ele fuma maconha com Bunny Wailer! (Há mais no livro). Mas não são tão poucas, as pessoas que o conseguem – e delas, quem fez uma obra tão carregada de interesse genuíno? Imagino os olhos curiosos de Sullivan perscrutando o universo. Em suas páginas não há vaidade. Não só os objetos são interessantes, mas também aquele que consegue decifrá-los.